A outra margem do Igaraçu

Passageiros em canoa entre Ilha Grande e Parnaíba. Imprensa Popular. Rio de Janeiro, junho de 1956.

Quando cheguei a Ilha Grande em 2015, já faziam 40 anos que uma ponte a ligava ao continente.

Contudo, se você conversasse com um morador do lugar sobre como eram as idas à Parnaíba antes da construção da Ponte Simplício Dias, ele ou ela iria descrever longas caminhadas iniciadas na madrugada pela areia fofa até chegar ao Rio Igaraçu.

Chegando às margens do rio, era necessário o trabalho do vareiro, que iria transportar pessoas e objetos numa canoa, usando longas varas para produzir o deslocamento.

Na convivência com o povo da Ilha, percebi algo de seu senso de pertencimento.

Apesar da Ilha ser considerada pela prefeitura um bairro rural, logo parte do município de Parnaíba, os ilhéus compreendem a ilha como um lugar diferente do município.

Foi comum ouvir as pessoas dizerem "vou à Parnaíba", denotando um sentido de exterioridade em relação ao continente e a municipalidade. De forma que estar na Ilha é percebido como estar "fora" de Parnaíba.

A pertença dos ilhéus não obedece aos limites administrativos do governo, mas a percepção de habitarem um local que não se confunde com a cidade.

Interessante foi perceber também nos cronistas parnaibanos do século XX, esse sentido de alteridade na relação ilha-cidade.

Para eles, Ilha Grande era a "outra margem do Igaraçu", operavam, assim, à maneira do citadino, suas próprias fronteirizações.

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